Nilma Rodrigues: Acesso ao tratamento de artrite
reumatoide enfrenta obstáculos
12/08/2014 02h00
Gargalos em toda a
cadeia de fornecimento, diagnóstico e tratamento têm elevado a resistência à
adesão ao tratamento de artrite reumatoide no Brasil. De acordo com estudo
sobre a prevalência das doenças reumáticas no país, publicado em 2004 pelo
COPCORD (do inglês "Community Oriented Program for Control of Rheumatic
Diseases", em português programa orientado para as comunidades para o
controle de doenças reumáticas), da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca
de um milhão de brasileiros sofrem com a doença.
Embora atinja uma
parcela menor da população se comparada a outras enfermidades mais
conhecidas, a artrite reumatoide é uma doença inflamatória crônica que ataca
principalmente as articulações de todo o corpo e pode se desenvolver em
outros órgãos. Se não for tratada adequadamente, a doença pode impossibilitar
uma vida regular e, em muitos casos, causar invalidez. Por isso a agilidade
no acesso de pacientes a programas governamentais de tratamento é urgente.
Uma das causas do
problema de adesão no Brasil é a dificuldade de acesso às medicações, causada
pela falta de alinhamento entre as secretarias estaduais de saúde para
aprovação de terapias devido a diferentes interpretações do conteúdo dos
protocolos de tratamento. Outro agente desmotivador que leva o paciente a
abandonar os cuidados com a necessária regularidade é a dificuldade de
deslocamento para tratar e conseguir o medicamento adequado. Em ambos os
casos, o que se observa é a dificuldade e consequente demora no atendimento
destes pacientes.
No Estado de Minas
Gerais, por exemplo, o problema do acesso ainda enfrenta obstáculos
burocráticos que têm levado a uma demora de até 120 dias para conseguir o
remédio, enquanto na maioria dos Estados brasileiros a média é de 30 dias. A
Bahia é outro Estado que também enfrenta graves problemas, com a excessiva
centralização do diagnóstico e dispensação de medicamentos restritos à cidade
de Salvador.
No Brasil, depois
de muita luta, somente no meio do ano passado conquistamos a aprovação do
novo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), que estabelece
critérios de diagnóstico e de tratamento da doença com as respectivas doses
adequadas e os mecanismos para o monitoramento clínico.
A chegada de novas
gerações de medicamentos é uma notícia positiva para uma doença pouco
valorizada quando se trata de políticas públicas ou de procedimentos de
atendimento ambulatorial. Mas é necessário investir em conhecimento sobre a
falha, substituição terapêutica e custos para obter melhores alternativas
para o tratamento e qualidade de vida do paciente.
Ter remédio é
importante, mas para quem sofre com a artrite reumatoide agilidade é
fundamental. Conforme o novo PCDT, o tratamento deve ser começado o mais
rápido possível, pois o período inicial da doença, principalmente no primeiro
ano, é o espaço de tempo em que uma intervenção farmacológica efetiva pode
mudar o curso da doença. Além disso, o diagnóstico precoce é fundamental para
instituir os cuidados adequados e pode ser fator determinante para manutenção
de um estilo de vida normal e produtivo. Em alguns casos, a detecção tardia
pode tornar o curso da doença irreversível.
Se conseguirmos
promover esse atendimento com eficiência, além de oferecer uma qualidade de
vida excepcional para o paciente, é possível economizar, pois o custo de
manutenção do tratamento cairia com o diagnóstico e início rápidos. Para
isso, é fundamental disponibilizar uma grande variedade de opções de
medicamentos, derrubar o custo e facilitar o processo de distribuição e
acesso aos tratamentos mais modernos.
NILMA RODRIGUES DE
OLIVEIRA, 56, é portadora de artrite reumatoide e presidente da Associação
Nacional de Grupos de Pacientes Reumáticos (ANAPAR)
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